sexta-feira, 23 de março de 2012

SÃO TURÍBIO - Padroeiro do Episcopado Latino-Americano

São Turíbio de Mogrovejo

O Apóstolo do Peru e Padroeiro do Episcopado Latino-Americano deixou quatro séculos atrás indelével exemplo de pai e pastor de seu rebanho.

Turíbio Alfonso de Mogrovejo nasceu de família nobre em Mayorga, no antigo reino de León (Espanha), em 16 de novembro de 1538. Seus pais, Don Luís de Mogrovejo e Dona Ana de Robledo y Moran, pertenciam à mais alta nobreza da comarca, que tinha tanto apreço aos seus direitos e privilégios como à preservação da pureza da fé e dos costumes.
Aos doze anos foi enviado por seus pais para estudar em Valladolid, onde se impôs à admiração de todos por seu comportamento exemplar, suas virtudes e seus dotes intelectuais. Após alguns anos em Valladolid, tendo em vista sua grande apetência pelo estudo do direito civil e eclesiástico, dirigiu-se à famosa Universidade de Salamanca. Lá recebeu benéfica influência de seu tio, Juan de Mogrovejo, professor na dita universidade e no Colégio Mayor de San Salvador de Oviedo. Tendo sido este convidado por Dom João III, rei de Portugal, a lecionar em Coimbra, levou consigo o sobrinho, tendo ambos passado alguns anos naquela renomada universidade portuguesa.
De volta a Salamanca, havendo seu tio falecido pouco após o regresso, Turíbio resolveu seguir a carreira de seu finado parente, tornando-se professor no Colégio Mayor de San Salvador de Oviedo.
Sua vida austera e suas penitências de tal modo chamaram a atenção que alguns de seus amigos, movidos por boa intenção, ponderaram que aquela vida poderia acabar por prejudicar-lhe a saúde, sem maior proveito espiritual, pois muitos poderiam achar que ele praticava tais penitências por ostentação. O argumento de que aquilo poderia desedificar a outros foi decisivo para que Turíbio concordasse em moderar suas austeridades. Nessa época empreendeu uma peregrinação a Santiago de Compostela, em trajes de peregrino, pedindo esmolas.
Em 1575, talvez por influência de um de seus amigos, Diego de Zúniga, foi nomeado por Filipe II para o cargo de Inquisidor em Granada. De tal maneira se houve com sabedoria, prudência, justiça e retidão, que o rei, conhecedor das altas qualidades morais e intelectuais de Turíbio, resolveu indicá-lo para missão mais elevada e mais espinhosa.

A mão da Providência na escolha de um Arcebispo
De fato, estando vacante a sé episcopal de Lima, no Peru, pela morte de seu primeiro Arcebispo, Dom Jerônimo de Loaysa, em 1575, Filipe II comunicou a Turíbio, em 1578, sua intenção de indicá-lo ao Papa Gregório XIII para que fosse nomeado Arcebispo daquela capital.
Turíbio relutou muito em aceitar tal indicação, tendo escrito ao Rei e ao Conselho das Índias renunciando à mesma. Depois, cedendo aos argumentos de seus amigos e colegas da universidade, que lhe disseram ser esta a vontade de Deus a seu respeito, terminou por aceitá-la, pois eles lhe convenceram de que serviria melhor a Deus na dura e espinhosa tarefa de Arcebispo de Lima do que permanecendo como professor em Salamanca.
Assim, em março de 1579 recebeu as bulas de Gregório XIII com a nomeação para o cargo. Como não era sequer sacerdote, mas um simples clérigo tonsurado, tendo recebido dispensa papal dos interstícios necessários para a recepção das diversas ordens, foi ordenado sacerdote em Granada e, alguns meses depois, recebeu a sagração episcopal em Sevilha. Finalmente, em setembro de 1580 embarcou com destino à sua sede episcopal, onde chegou em maio do ano seguinte.
Lima, capital do Vice-Reinado do Peru, era uma cidade onde se respirava um ar de religiosidade, mercê da atuação das diversas ordens religiosas que nela mantinham residências, conventos, hospitais, etc. É de se notar que numa população heterogênea, onde se mesclavam índios, mestiços, negros, crioulos e espanhóis, conviveram — quase ao mesmo tempo, com poucos anos de diferença — cinco santos, sendo três nascidos na Espanha e dois nativos: São Turíbio de Mogrovejo, Santa Rosa de Lima, São Martinho de Porres, São Francisco Solano e o Bem-aventurado Juan Macías, que dignificaram, com a santidade de sua vida e suas virtudes, a cidade de Lima na segunda metade do século XVI e início do século XVII.

A reforma da diocese
A diocese de Lima, de enorme extensão geográfica, fora elevada em 1545 à condição de Arquidiocese, com sufragâneas (quando bispo ou bispado é dependente de arcebispo ou arquidiocese) que se estendiam por todo o território da América do Sul espanhola e uma parte da América Central. Tendo permanecido por seis anos sem pastor (1575-1581), o novo Arcebispo a encontrou em estado de grande anarquia, num sistema em que o regime do patronato facultava aos vice-reis intervir em assuntos eclesiásticos, o que dava origem a freqüentes disputas entre o poder espiritual e o temporal.
Tratava-se portanto de moralizar os costumes, reformar o clero e defender os direitos da Igreja contra as intromissões indevidas do poder temporal, tarefa a que São Turíbio se dedicou com vigor extraordinário desde sua chegada em Lima e durante os 25 anos em que permaneceu à frente da diocese.
Obedecendo às diretrizes do Concílio de Trento, reuniu três Concílios Provinciais, o primeiro dos quais, realizado em 1582, um ano após sua chegada, traçou as normas que regeram todas as dioceses da América espanhola por mais de três séculos. Além disso, de dois em dois anos realizava sínodos diocesanos, também em obediência às resoluções tridentinas.
Reformou o clero secular na disciplina e nos costumes, começando por aqueles que deveriam ser os seus auxiliares mais próximos, tornando o local em que residia mais semelhante a um convento de religiosos fervorosos e contemplativos, do que ao palácio de algum senhor rico e poderoso.
Regulamentou a pregação para os índios e mandou escrever e imprimir, sob sua direção, um catecismo especial para eles, conseguindo que os pregadores aprendessem a língua indígena, para a qual criou uma cátedra na Universidade de São Marcos.
Zelo apostólico que não media sacrifícios

A fim de entrar em contato com todos os seus diocesanos, realizou várias visitas pastorais pelo imenso território de sua diocese, viajando a pé, a cavalo, em mula, debaixo de fortes chuvas ou de um sol escaldante, atravessando rios, embrenhando-se nas selvas tropicais ou escalando montanhas escarpadas ao lado de perigosos precipícios. Nada o detinha em seu zelo apostólico de pastor que dá a vida por suas ovelhas. Fazia-se entender pelos índios, quer falando sua própria língua, quer de maneira totalmente inexplicável e miraculosa, como algumas vezes aconteceu.
Seu interesse pelos índios não se limitava ao bem de suas almas. Empenhava-se também em melhorar suas condições de vida, especialmente daqueles empregados nas grandes propriedades rurais e nas minas. Lutou para que seus direitos fossem devidamente respeitados pelos espanhóis e que houvesse verdadeira harmonia entre as classes sociais, como preconiza a doutrina social da Igreja.

De onde vinham os frutos de seu apostolado
Sabendo perfeitamente que a vida interior é a alma de todo apostolado, e que os frutos da ação apostólica dependem em grande parte da santidade pessoal do apóstolo, São Turíbio procurava esmerar-se em sua vida de oração, de recolhimento e de penitência a tal ponto que aos demais era difícil compreender como conseguia tempo para levar a esse extremo a oração, a penitência e a ação.
Sua vida era de contínua oração e contemplação, que a todos edificava. Segundo seus contemporâneos, vê-lo rezar era como ouvir um sermão da mais alta espiritualidade. Dedicava à meditação várias horas no dia, fato inexplicável em meio às múltiplas ocupações que seu cargo exigia.
As penitências que se impunha eram de três tipos: no sono, na alimentação e os castigos corporais. Comia e dormia muito pouco. Não se deitava na cama à noite, mas numa táboa ou numa almofada.
Em matéria de alimentação, os rigores do sacrifício iam a extremos inimagináveis. Segundo testemunhas da época, nunca foi visto ingerindo aves, ovos, manteiga, leite, tortas e doces. Não comia pela manhã e seu jantar consistia em pão, água e uma maçã verde. Nos dias de abstinência também jejuava, enquanto nas Semanas Santas e Quaresmas passavas dias inteiros sem comer, só ingerindo um pouco de pão seco e água quando sentia estar no extremo limite de sua resistência.
Quanto aos castigos corporais, ele os aplicava a si mesmo desde os tempos de estudante. Além do uso do cilício, flagelava-se com tanta freqüência que produzia graves e extensos ferimentos em suas costas e ombros. Tais atitudes, em circunstâncias correntes, não são para serem imitadas. O que não exclui que, eventualmente, possam servir de exemplo em outras excepcionais.

A morte em plena ação
Como um grande guerreiro que morre em pleno combate, a morte o surpreendeu no decurso de sua última viagem apostólica, em março de 1606. Estava ele na cidade de Sana, onde pretendia celebrar os ofícios da Semana Santa, quando sentiu-se muito mal, percebendo que seu fim estava próximo, previsão que lhe foi confirmada pelos médicos que o atenderam. A notícia, longe de lhe causar preocupação ou tristeza, deu-lhe grande alegria a ponto de exclamar com o salmista: “Laetatus sum in his, quae dicta sunt mihi: in domum Domini ibimus(Alegrei-me com aquilo que me disseram: que iremos à casa do Senhor).
Pediu então para ser levado à igreja paroquial para receber os últimos sacramentos, tendo distribuído seus poucos haveres entre os criados, índios e pobres da cidade. Voltando à casa onde estava hospedado, consolou os que com ele se encontravam e pediu para ser entoado o salmo “In te, Domine, speravi”; ao ser cantado o versículo “In manus tuas…” entregou a alma ao Criador com a alegria e a confiança daqueles que sabem ter combatido o bom combate, terminado o percurso e alcançado o prêmio da glória. Eram três e meia da tarde da Quinta-feira santa, 23 de março de 1606.
Seu corpo foi embalsamado e sepultado na igreja local, sendo alguns meses mais tarde transladado a Lima. Ao longo de todo o percurso acorriam as populações indígenas e camponesas para prestar sua última homenagem a quem qualificavam, com razão, como seupadre santo. Na capital, seus despojos foram recebidos com todas as honras pelas autoridades eclesiásticas, civis, militares e pela população em geral, glorificando a figura de um homem que todos tinham por santo.
Foi então sepultado com toda a pompa e solenidade na Catedral de Lima, onde se encontra até hoje para veneração dos fiéis. Seu processo de canonização foi logo iniciado, com o reconhecimento de suas virtudes heróicas, tendo sido beatificado por Inocêncio XI em 1679 e colocado na lista dos santos da Igreja Católica por Bento XIII em 10 de dezembro de 1726.

Reflexão

Em São Turíbio reforçamos nossa convicção de que o tempo consagrado a Deus é garantia de uma fiel entrega ao cumprimento dos próprios deveres e ao serviço dos irmãos. Ele compreendeu que “uma das características fundamentais do pastor deve ser amar aos homens que lhe foram confiados, tal como ama a Cristo, a cujo serviço está”. Ele compreendeu o ministério pastoral como o concebe nosso querido Papa Bento XVI, que disse na Missa de inauguração de seu Ministério Petrino: “Apascentar quer dizer amar; e amar quer dizer também estar disposto a sofrer. Amar significa dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, o alimento de sua presença, que Ele nos dá no Santíssimo Sacramento”. São Turíbio, rogai por nós.
Grifos Nossos

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