sexta-feira, 18 de maio de 2012

VOCAÇÃO E SILÊNCIO


por Pe. Aerton Marcos*

Aos poucos vai se tornando comum afirmar que a vocação é o encontro entre palavra e silêncio através do qual “o homem é convidado a dialogar com Deus” (GS, 19). O texto de estudos da CNBB, denominado “Guia pedagógico de pastoral vocacional”, recorda que o termo vocação deriva de uma palavra que significa chamado e que, hoje, significa mais que uma inclinação ou aptidão para fazer alguma coisa ou para ser alguém. No sentido mais específico, na Igreja, vocação é o apelo de Deus que chama a uma missão ou serviço. 
 
A vocação é uma iniciativa divina que para sua efetiva acolhida a primeira atitude é ou só pode ser, consequentemente, a escuta. O processo vocacional não surge do nada, mas parte de determinados contextos humanos e eclesiais (PDV, 5). Assim sendo, a voz divina que convoca não é obrigatoriamente um timbre material, pois Deus que desde o princípio do mundo se abriga no silêncio, nesse também se deixa conhecer e nele se permite encontrar. 
 
Os relatos dos evangelistas que mostram Jesus vivendo a “condição da maioria dos homens, sem grandeza aparente” (CaIC, 531), permitem observar que a primeira palavra ou pregação a respeito do Messias é justamente seu silêncio. Considere-se, assim, que os trinta anos da vida oculta de Jesus sinalizam uma silenciosa preparação ao público anúncio do Reino: “o que digo, digo-o segundo me falou o Pai” (Jo 12,50). 
 
Experimentar o silêncio não é somente “nada dizer”, mas “saber falar”. Para isso é que para se adquirir êxito no processo de comunicação humana uma norma é: trabalhar o justo equilíbrio entre silêncio e palavra. A esse respeito, são Gregório Magno deixou escrito que o cristão, especialmente o sacerdote, na pratica do silêncio, carece da prudência como a medida de sua fala... para que “nem diga o que deve calar, nem cale o que deve dizer”. 
 
O Papa Bento XVI, na mensagem pelo dia mundial de oração pelas vocações deste ano, ao se dirigir aos bispos, presbíteros, diáconos, consagrados e consagradas, catequistas, agentes pastorais e educadores pede para “que seja concreta a atenção àqueles que, nas comunidades paroquiais, associações e movimentos, manifestem sinais duma vocação para o sacerdócio ou para uma especial consagração”. 
 
Recentemente o Supremo Tribunal de Justiça do Brasil, em nome de uma aparente liberdade, votou e aprovou como uma solução legal a descriminalização do aborto de fetos com anencefalia, um ato que – humanamente – continuará hediondo. Julgar que uma criança não deve vir ao mundo é uma violência aos direitos humanos e um ataque à sociedade que constitucionaliza como preceito fundamental a inviolabilidade do direito à vida.  
 
Essa realidade atual pede que o serviço às vocações esteja, ainda mais, revestido do silêncio dos “não nascidos” que clamam por respeito e proteção (CIC, n. 2270). Sim, que o Senhor da Messe envie novos ministros, consagrados e consagradas, frutos de um decidido SIM à vida, nossa primeira dádiva e vocação. 
 
 
aertonmarcos@hotmail.com

* Pe. Aerton precedeu o Pe. Gilberto Freitas na reitoria do Discipulado Beato João Paulo II

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